terça-feira, 17 de setembro de 2013
Esquecer...
(...)Às
vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer,
arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre
a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo
que devia ser feito, (...).Às vezes é preciso mudar o que parece não
ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater
com a porta e apanhar o último comboio no
derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo
borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as
mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre,
esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra,
cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma
gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo
num cofre e que a seguir esqueça o segredo.Às vezes é preciso saber
renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não
pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem
a fechar, pedir silêncio e paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem
medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo
quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir,
amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu
caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o
sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única
companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra
maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se
conformar e um dia então esquecer.
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